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Emoção e manifesto silencioso marcam show do Mawaca com Kayapó em São Paulo

Kayapó, durante show com Mawaca, no Sesc Pompeia (foto: Amanda Moraes)

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Desde o início, som e imagem sempre foram elementos presentes nas apresentações do Mawaca.

Mas no último show, no Sesc Pompeia, a banda foi além.

A partir de arranjos contemporâneos sobre canções indígenas, o Mawaca fez uma viagem pela alma indígena e dividiu o palco com os Kayapó da aldeia Moykarakô da TI São Félix do Xingu, no sul do Pará.

Diante da grandiosidade e da catarse que foi o encontro, a diretora musical da banda não tem dúvidas: “foi um show histórico que retoma a ideia de intercâmbio cultural que marcou a turnê da banda, em 2011, quando o Mawaca percorreu aldeias na Amazônia realizando intercâmbios com diversos grupos indígenas”.

“Mekaron – imagem da alma” dá título a esse show que teve imagens do fotógrafo e indigenista Renato Soares projetadas em três telões pelo VJ Alexis Anastasiou.

Renato Soares já registrou mais de 60 grupos indígenas por todo o país e é autor do projeto ‘Ameríndios do Brasil’ e traz no currículo experiências únicas como os trabalhos feitos com o sertanista Orlando Villas-Boas e registros de indígenas em sua plenitude, no lugar das equivocadas e estereotipadas em situações de miséria ou tristeza em que os indígenas costumam ser retratados.

“Boa parte das fotografias que eu via era de índio triste. E percebi que eles sorriem muito mais que nós. Sempre brincando, flanando nesse universo dos sorrisos. Eles simplesmente gostam de brincar com a vida. Alguns sorriem com os olhos, outros às gargalhadas”.

Parte do repertorio desse show está no CD “Rupestres Sonoros – O canto dos povos da floresta” que entrou Top Five do World Music Charts Europe e ganhou resenha na revista Songlines, em outubro de 2009. O repertório é baseado na pesquisa de cantos indígenas de Magda Pucci, que também é arranjadora, pesquisadora e cantora do grupo, e leva aos palcos versões de músicas de diferentes povos indígenas, com arranjos contemporâneos sobre canções dos Paiter Suruí (Rondônia); Ikolen-Gavião (Rondônia), Kayapó (Pará); Tupari (Rondônia), entre outros. OUÇA O CD

Nas palavras de Magda Pucci, o show “foi de lavar a alma e os Kayapó estavam a mil, cantando, lindamente, um som potente.”, descreve a diretora musical do Mawaca, quem destacou também a presença marcante das mulheres indígenas em cena e a emoção da plateia no Sesc Pompeia, em São Paulo.

Zuzu Leiva, durante ensaio com os Kayapó (foto: Marcello Vitorino)

Mas o Mawaca foi além da música.

“Nós trocamos muito mais do que arte. Foi uma troca de amor, energia, tradição, uma experiência de resiliência constante, em tempos diferentes: o encontro do tempo da cidade com o tempo indígena”, descreveu Zuzu Leiva, cantora do Mawaca.

Um dos destaques desse intercâmbio entre a arte indígena e a performance vigorosa do Mawaca foram as pinturas nos corpos das cantoras da banda, feitas pelas mulheres Kayapó com tinta de jenipapo e carvão para fixar os desenhos.

“Entregar o meu corpo para a pintura, dos pés à cabeça, foi sentir na pele o que é essa arte Kayapó”, explica Zuzu.

Curiosamente, as mulheres Kayapó não falam português, mas se expressaram com sua arte corporal e seu canto minimalista.

Sangue indígena, nem uma gota a mais
Em tempos de incerteza e desrespeito aos povos indígenas, o Mawaca não poderia deixar também de fazer seu protesto.

O manifesto silencioso que aconteceu em pleno show foi marcado pela colocação de faixas pretas nos braços dos músicos e cantoras do Mawaca, e dos Kayapó, indicando o nosso luto, em protesto ao desmonte geral das políticas públicas em relação aos direitos indígenas ligados à saúde, à educação e à demarcação de terras indígenas.

O protesto ganhou ainda mais força quando todos cantaram Koi Txangaré, um canto de guerra de um ritual antropofágico entre povos de Rondônia.

OUÇA A MÚSICA

“Sangue indígena, nem uma gota a mais” é a campanha que vem sendo feita desde janeiro para alertar sobre os problemas que se agravam.

Apesar dos desafios de colocar em prática um projeto tão complexo como esse, como reunir músicos indígenas e não indígenas em um mesmo palco, Magda Pucci afirma que foi muito especial, sobretudo por conta da disposição dos Kayapó em adaptar sua arte para um show em um ambiente diferente ao que eles estão acostumados.

Ao final, Magda deixa escapar a notícia que todo mundo gostaria de ouvir: “É um projeto que vai ter desdobramentos pois, tanto so Kayapó como o Mawaca, ficamos desejosos de voltar ao palco juntos.

Esse encontro foi registrado pelas lentes de Paloma Lopes da Nascente Filmes, que registrou os bastidores e os dois shows no SESC”.

E como se o palco do Sesc Pompeia já não fosse suficiente para a grandiosidade daquele momento, o Mawaca convidou o público, ao final do espetáculo, para fazer uma grande roda do lado de fora do teatro, para cantar e dançar com os Kayapó.

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